Este ano, o Moda Lisboa desiludiu-me. Bastante. Pensava eu que o pior desta edição
Legacy se resumia à falta do meu
beloved Luís Buchinho no alinhamento dos desfiles. Pior do que isso: houve também uma grande falta de noção. Falta de noção das
guidelines do evento, da sua seriedade, do seu papel enquanto representante principal (e - quase - único) da Moda portuguesa.
Quantas pessoas, de entre a vasta lista de convidados, se preparou para o evento? Não, não estou a falar na escolha do
outfit... Estou mesmo a referir-me a preparação psicológica, a um momento de silêncio e
shut down da nossa correria citadina para pensar no que realmente lá iríamos fazer. Eu fi-lo, aliás faço-o sempre. Para mim, a Moda ultrapassa a sua significação clássica: é muito mais do que a tendência de consumo do momento, é uma forma de expressão, de arte. A Moda não surgiu apenas da necessidade de nos vestirmos, surgiu também da necessidade de comunicarmos. Antes de existir um coordenado, houve um
croqui, uma pintura. Quando esta passa a três dimensões, em que se distingue de uma escultura? No momento do desfile, peças de arte palmilham o espaço diante nós e fundem-se com ritmos musicais marcados, culminando numa apoteose de
performance quase teatral.
Assistir a 3 dias de desfiles de criadores nacionais não é uma futilidade, é presenciar um espectáculo que estimula o nosso sentido estético. Mas, depois do que vi na última edição deste Moda Lisboa, percebo de onde vem esse estigma. Num país pequeno e corrompido, com uma capacidade micelar de formar
lobbies, não me choca (mas desagrada-me profundamente) que se encorajem determinados grupos sociais a participar neste tipo de eventos, quando os seus membros não compreendem o conceito original.
Ora, já o nosso estimadíssimo Yves Saint Laurent dizia "
We must never confuse elegance with snobbery.", porém é exactamente esse o paradigma a que assistimos no Moda Lisboa: a confusão entre o que é ser elegante e ser
snob. Passo a explicar o perfil do snob-MLx: é considerado uma personalidade pública, senta-se na primeira fila ao lado do papelinho que indica
press, passa o desfile inteiro a mexericar no telemóvel, tirar
selfies e cochichar histericamente com a pessoa igualmente pseudo-famosa ao seu lado. E sim, isto choca-me. Choca-me, essencialmente, porque o meu primeiro sentimento, ao sentar-me nas bancadas do Pátio da Galé é um sentimento de auto-realização, de sonho atingido, de felicidade inexplicável. Ou melhor, explicável pelo o meu incomensurável amor ao mundo da Moda e a tudo aquilo que esta atinge na sua complexidade artística e estética. Choca-me porque sei que existem mais pessoas, perdidas por tais bancadas, que partilham este sentimento. E todo o comportamento do snob-MLx é uma gigantesca falta de respeito: para com o estilista, as pessoas como eu, o conceito de moda.
Este ano, pela primeira vez em 4 edições, não me deixaram sentar na segunda fila. "Pedimos desculpa, mas está reservada.". Pedimos desculpa, mas está reservada aos snobs-MLx. Para terem um melhor ângulo de
selfie.
Este ano não há registo fotográfico das minhas colecções favoritas.
Estou de luto pela pequenez de espírito que teima em reinar neste país.
Love you all ♡
Sara